eu tenho uma teoria que o segundo semestre de todos os anos são sempre melhores do que os primeiros. pelo menos percebo isso ao longo da minha vida, segundo semestres na minha cabeça, ao imaginar o formato de um ano, são em tons quentes e o início do ano frio, não sei porque.
depois de muita confusão familiar, desencontros, sessões de terapia, conversas infinitas e profundas com o meu companheiro de vida, de acampamento na casa da minha prima, temos um novo lar.
mudamos pra uma casa que ao entrar, você já dá de cara com duas pias, um tanque e uma com bancada de pedra. IDEAL para montar um ateliê. e foi o que eu fiz, tenho um novo espaço de trabalho, que é meio úmido e gelado, mas que tem espaço para eu criar. e isso muda tudo na maneira de você encarar o seu trabalho e produzir.
nesse meio tempo também, conclui o curso de pintura e muralismo com o Apolo Torres, que contribuiu tanto pra minha prática artística, quanto pra minha vida pessoal. o compromisso do curso e com o projeto final foi o que segurou minhas pontas enquanto tudo parecia estar dando meio errado.
Esse primeiro semestre foi de contenção. Aquele meme da silver tape tapando o vazamento eterno. E de desconstrução também, de aprender a tirar o que fica de bom dos pesadelos (que também foram muitos) e tentar se nutrir disso.
Nutrir! Ta aí o terno certo pra resolver com palavras o que é a tela do ovo frito pra mim. Vamos lá: não sei se você sabe, mas até uns 8 ou 9 anos eu almoçava e jantava arroz, feijão peneirado (ou só o caldinho), carne e ovo frito. a carne podia não ter, MAS O OVO FRITO foi minha religião, meu parça e a única coisa que reinava no meu paladar todo esse tempo.
demorou pra eu aprender a comer outras coisas. minha família ficava refém de me fritar ovos em toda ocasião… eu viajava com amigas e passava o maior perrengue pra comer. mas eu lembro que eu comia, comia o que me davam qndo estava fora de casa, e não morri, nem tive um treco. só comi e pronto. eu me irrito de pensar nisso como uma via de mão dupla onde eu controlei minha mãe e minha avó por anos fazendo elas me fritarem o ovo e, por outro lado, como elas também permitiram e não foram mais firmes pra me convencer a fazer diferente. eu mandava, e elas faziam, por amor.
o nome “a queda do império do ovo frito” veio na minha cabeça quando eu comecei a relacionar essa metáfora do ovo com outras coisas da minha vida que sempre me foram postas, e resolvidas de uma única forma. como sendo a única possível. e eu lá acreditando e me alimentando daquilo por tanto tempo. e sim, foram questões profundas como gênero, religião, sexualidade… mas também questões banais do tipo: morar em bairro tal é melhor que morar em bairro tal. ou que a Renner é melhor que a C&A. Não eram as coisas que eu acreditava, eram as que acreditavam ao meu redor. Até o mundo se mostrar TÃO MAIS TÃO diverso, cheio de caminhos, de possibilidades. impossível comer só ovo frito. com tanta comida diferente por ai.
hoje, eu como muito ovo, quase todo dia, mas não só o frito. eu também tenho uma banana tatuada, em homenagem a meu amadurecimento e às frutas/legumes e verduras que eu passei a comer, hahaha sei que fui muito sortuda por ter tido meu ovinho diário, mas nunca pararei de pensar: quantas possibilidades gostosas eu perdi? eu teria gostado delas antes como gosto agora?
só sei que quero continuar experimentando…
faço novas telas com novos ovos? me digam ai,
inté mais
nath
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A Queda do Império do Ovo Frito, 2024
acrílica sobre tela
dimensões: 60x90cm
Finalmente o fim dos impérios impositores. Bora seguir o lado da luz, caguei pros sith